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segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Os 30 do triplo XUTOS AO VIVO

Estamos em final do ano de 1988 e, por esta altura, os tops de vendas indicam que Ao Vivo  – o triplo vinil de capa negra – é platina.
Isto foi há 30 anos!
Os Xutos guardaram o som e a atmosfera febril de três noites intensas no pavilhão d’Os Belenenses, em pleno verão de 88, na meta de uma frenética maratona de quatro meses a palmilhar a velha pátria.
Na última semana de novembro desse ano, finalmente era lançado o primeiro álbum da banda com registo de palco. Intitulava-se Xutos ao vivo – ou simplesmente Ao Vivo.


O triplo, o tão desejado e merecido registo ao vivo que há anos teimava em não aparecer, chegou às lojas ao preço de um LP simples (Ufa! Ainda bem porque a malta cá do burgo não é rica!), um exemplo - dos bons - deixado pelos Clash com o seu Sandinista. E chegar ao Natal com 3 rodelas de vinil cheiinhas de Xutos em concerto não era consoada comum.

A capa, assinada por Marco Sousa Santos, é preta com o nome e o logo da banda apenas visíveis pelo relevo (nas capas da cassete e do CD surgem em cinzento sobre o fundo preto). Neste álbum o X é uma variante bastante alterada daquele que aparece no 88 e parece resultar do efeito distorcido apresentado no interior da capa desse álbum, onde se vê o stencil usado para desenhar o X circundado.
O destaque na capa vai para uma foto distorcida a preto e branco, tirada em concerto por Pedro Lopes.




Nos 3 discos desfilam 28 temas que percorrem os primeiros dez anos da banda. Alguns mais poderiam lá estar (pela vontade dos fãs caberia com certeza mais uma dezena), sobretudo o Se Me Amas, que foi esquecido. Na versão CD apenas ficaram 19 músicas. Em cassete existe a versão completa, dividido em duas fitas e uma versão mais curta, com 13 temas, também dividida por duas fitas.


O filme do Xutos Ao Vivo foi exibido pela RTP já em 1989, em duas ocasiões.
Em 2009, a Universal ressuscita  a histórica gravação numa nova edição que inclui 3 CD’s com a totalidade do álbum e um DVD com o filme do concerto que a RTP exibiu.


 Assim terminava a primeira década de carreira dos Xutos & Pontapés, com um álbum bem representativo da força e do carisma da banda em palco. Ainda que este final de 1988 estivesse marcado por sérios problemas internos que são, aliás, conhecidos, importa é que para o seu público os Xutos estavam no lugar que mereciam e num grande momento.



Aquela que ”um dia haveria de ser a maior de Portugal” como alguém vaticinou nos primeiros dias, nos primeiros passos. já o era, por esta altura… melhor, já o era desde sempre, caramba!




A celebração dos 10 anos de carreira aconteceu pouco depois, com um concerto em Gondomar, a 13 de janeiro, e outro em Braga, no dia seguinte, marcado pelo acidente em palco que levou o Botas para o hospital.




30 anos do 88


Sobre o braseiro ainda vivo de um ano de 87 intenso, entre o Circo de Feras e a popular Casinha, com passagem em novembro pelo Brasil, os Xutos jogam a cartada seguinte com um novo álbum que começa a ser gravado no início de 1988. Seria um ano de consagração, preenchido com uma tournée que terminou nos 3 concertos n’Os Belenenses, gravados para o triplo Ao Vivo.
O álbum  88 começou a ser gravado em finais de janeiro e seria lançado dois meses mais tarde, a 25 de março, com apresentação ao vivo na saudosa Koolcat, em Matosinhos. A partir daí foram 4 meses e 60 concertos já sob o patrocínio da Philips. Pelo meio nasceu, o Club dos Xutos -  clube de fãs oficial - e foi lançado o single P’ra ti Maria / Andarilhos.



Lembrava Zé Pedro, numa entrevista de 1990, no Johnny Guitar:
“Grande parte dos temas que integram o 88 foram compostos no final do ano de 87. Havia alguns temas como por exemplo o À Minha Maneira, que nós já tocávamos ao vivo há muito tempo, mas grande parte dos temas foram feitos de propósito para o disco, só mais tarde é que os experimentámos ao vivo”. (Conta-me Histórias, Ana Cristina Ferrão, Assírio & Alvim 2009)







O álbum continuou a marcar a ascendente popularidade dos Xutos num público que se alargava a várias gerações. Canções como P’ra ti, Maria e À Minha Maneira – esta estava gravada ao vivo no álbum do RRV que ficou na gaveta até 2001 – agarravam até os menos atentos e distantes, tal como fizera a Casinha.


























A capa, das mais marcantes do grupo, é assinada por Marco Sousa Santos e representa a estreia do novo logo dos Xutos, o famoso X circundado, que haveria de atingir maior longevidade, ainda que com variações na forma e na orientação.

88 foi lançado nas versões em vinil, cassete e CD. Na versão CD conheceu duas edições em 1988, a segunda das quais com os temas Sou Bom e A Minha Casinha adicionados. Em cassete teve a edição com a totalidade do álbum e uma outra em versão mais curta. Em 2009 surgem as novas edições em vinil, com a capa um pouco reformulada, pela Rastilho Records, e em CD, numa edição para colecionadores lançada pela Universal.




sábado, 15 de dezembro de 2018

30 anos depois... d'o Circo de Feras

"Imagina só a minha surpresa quando voltei do Brasil e encontrei o Circo de Feras nos top's! Nunca me tinha passado pela cabeça... Não só o Circo de Feras, como o êxito estrondoso da Casinha",
Assim testemunhava o produtor Paulo Junqueiro, em 1991, numa entrevista concedida a Ana Cristina Ferrão, para a biografia "Conta-me Histórias" (Assírio & Alvim, 1991 e 2009).
Em fevereiro de 1987 os Xutos lançaram esse histórico álbum, gravado no Angel II, no último trimestre de 86, e produzido por Carlos Maria Trindade. Era o "primeirinho" pela multinacional Polygram e marca, indiscutivelmente o antes e o depois nos Xutos & Pontapés. Mas se o depois se traduz em tudo aquilo que um contrato desta natureza trouxe em benefício da banda, o antes explica e de que maneira a importância desse passo e a urgência em concretizá-lo.
O registo é quase um best of, tantos são os temas que se tornaram emblemáticos no universo da banda e da própria música portuguesa, como Contentores, Nesta Cidade, Não Sou o único, N'América, Vida Malvada e Circo de Feras. Assim mesmo confirmava Zé Pedro, por altura do 25º aniversário do álbum, a Rui Miguel Abreu, para a BLITZ (abril de 2013):
«Nós tínhamos muitos temas que poderiam ter entrado no Circo de Feras e muito do material do 88 ainda veio dessa altura.Como tínhamos os temas todos muito rodados, qualquer um poderia ter entrado, mas a escolha acabou por ser muito direcionada pelo [produtor] Carlos Maria [Trindade], sempre com a nossa concordância, claro. Ele vinha de fora e tinha outro distanciamento a ouvir os temas. E a escolha foi bem feita porque a maior parte dos temas tinha estofo de single e tornaram-se clássicos do nosso reportório que ainda hoje tocamos ao vivo».
Artigo em https://blitz.sapo.pt/principal/update/2017-12-09-Como-Ze-Pedro-recordou-Circo-de-Feras-o-classico-dos-Xutos--Pontapes-lancado-ha-30-anos


Carlos Maria Trindade lembra o seu trabalho na produção do álbum:
"O projecto entusiasmou-me por ser uma banda de guitarras, energética, e que podia gravar à uma; a captação acústica podia ser fulcral para manter a energia do grupo no vinil (...) Apercebi-me logo que não só havia muito boas composições para gravar, como também que o grupo atravessava um excelente momento da sua carreira. O som nos ensaios era bem denso  e agarrado, a banda disciplinada e com e com uma força que deixava antever o êxito do LP(...)" (Conta-me Histórias, Ana C. Ferrão, Assírio & Alvim, 1991 e 2009)





























A propósito do 30º aniversário do álbum (sim, sim, foi há quase dois anos), o escritor e guionista Alexandre Borges escreve assim no Observador:
"Tendo em conta que todos já assistimos a, pelo menos, 17 concertos dos Xutos, todos somos testemunhas da vitalidade que o notável lote de canções de Circo de Feras mantém. 30 anos depois, ombreia sem pudores, com a passagem do tempo, os telemóveis, os convidados internacionais dos rock in rios, o processo-de-cinismização-em-curso dos adultos e o pêlo na vento dos putos. É vê-los a todos, do estivador à doutorada em bioquímica, esganiçando-se por alcançar o tom do Tim (é, de facto, um tim; uma espécie de tom, mas mais alto). O passado que foi lá atrás, a vida que vai torta, o sol que brilhará quando as trevas se abrirem, esta cidade cheia de filhos da puta sem razão e sem sentido, tudo isso, perdoem o Francês dos rapazes, é património imaterial deste recanto da humanidade.
Artigo completo em https://observador.pt/2017/02/02/de-modo-que-as-feras-fizeram-30-anos/
































Dois singles foram retirados deste álbum: Sai Prá Rua / Pensão e Contentores / Vida Malvada. Foi, aliás, com o tema Sai Prá Rua que os Xutos fizeram o seu primeiro videoclip. realizado por José João Águeda e filmado no Barreiro, onde os Xutos, heróis em ação, libertam do sequestro um grupo de crianças. E não, não é a Catarina Furtado no colo do Kalu. Ela só aparece durante dois segundos no início.



























Para o single Contentores foram captadas imagens num concerto no pavilhão d'Os Belenenses, com a atriz Ana Padrão, então com 17 anos, no papel de destaque.
O álbum Circo de Feras foi o primeiro Disco de Prata da banda e atingiu o Ouro no final desse ano. A tour levou os Xutos também a Espanha e ao Brasil.






























Em 2007 o Circo de Feras foi celebrado no Campo Pequeno, num concerto especial que incluiu artistas de circo e vários músicos convidados. O concerto ficou registado em DVD.

sábado, 13 de agosto de 2016

Colecionar artigos da imprensa é um passatempo comum e transversal aos mais diversos temas e faixas etárias. Uma banda de rock é motivo de sobra para que, ao longo de anos, muitos anos, se construa um vasto espólio de material impresso.
Os Xutos têm presença regular nas primeiras páginas de jornais e revistas e já muito se escreveu sobre o estúdio, a estrada, os discos, sucessos e alguns fracassos da banda, em quase quatro décadas de Vida Malvada.

Aqui têm lugar muitas dessas páginas, testemunhos de marcos importantes na vida dos dos Xutos.


"A PHALA", publicação da Assírio & Alvim, dedicava o seu suplemento n. 25, datado de 1991, aos Xutos & Pontapés, revelando um pouco daquilo que  o belísimo livro de Ana Ferrão, "Conta-me Histórias" nos daria a conhecer.
Esta publicação teve uma tiragem de 1000 exemplares.


Xutos, Super Som #50 PREVIEW