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sábado, 15 de dezembro de 2018

30 anos depois... d'o Circo de Feras

"Imagina só a minha surpresa quando voltei do Brasil e encontrei o Circo de Feras nos top's! Nunca me tinha passado pela cabeça... Não só o Circo de Feras, como o êxito estrondoso da Casinha",
Assim testemunhava o produtor Paulo Junqueiro, em 1991, numa entrevista concedida a Ana Cristina Ferrão, para a biografia "Conta-me Histórias" (Assírio & Alvim, 1991 e 2009).
Em fevereiro de 1987 os Xutos lançaram esse histórico álbum, gravado no Angel II, no último trimestre de 86, e produzido por Carlos Maria Trindade. Era o "primeirinho" pela multinacional Polygram e marca, indiscutivelmente o antes e o depois nos Xutos & Pontapés. Mas se o depois se traduz em tudo aquilo que um contrato desta natureza trouxe em benefício da banda, o antes explica e de que maneira a importância desse passo e a urgência em concretizá-lo.
O registo é quase um best of, tantos são os temas que se tornaram emblemáticos no universo da banda e da própria música portuguesa, como Contentores, Nesta Cidade, Não Sou o único, N'América, Vida Malvada e Circo de Feras. Assim mesmo confirmava Zé Pedro, por altura do 25º aniversário do álbum, a Rui Miguel Abreu, para a BLITZ (abril de 2013):
«Nós tínhamos muitos temas que poderiam ter entrado no Circo de Feras e muito do material do 88 ainda veio dessa altura.Como tínhamos os temas todos muito rodados, qualquer um poderia ter entrado, mas a escolha acabou por ser muito direcionada pelo [produtor] Carlos Maria [Trindade], sempre com a nossa concordância, claro. Ele vinha de fora e tinha outro distanciamento a ouvir os temas. E a escolha foi bem feita porque a maior parte dos temas tinha estofo de single e tornaram-se clássicos do nosso reportório que ainda hoje tocamos ao vivo».
Artigo em https://blitz.sapo.pt/principal/update/2017-12-09-Como-Ze-Pedro-recordou-Circo-de-Feras-o-classico-dos-Xutos--Pontapes-lancado-ha-30-anos


Carlos Maria Trindade lembra o seu trabalho na produção do álbum:
"O projecto entusiasmou-me por ser uma banda de guitarras, energética, e que podia gravar à uma; a captação acústica podia ser fulcral para manter a energia do grupo no vinil (...) Apercebi-me logo que não só havia muito boas composições para gravar, como também que o grupo atravessava um excelente momento da sua carreira. O som nos ensaios era bem denso  e agarrado, a banda disciplinada e com e com uma força que deixava antever o êxito do LP(...)" (Conta-me Histórias, Ana C. Ferrão, Assírio & Alvim, 1991 e 2009)





























A propósito do 30º aniversário do álbum (sim, sim, foi há quase dois anos), o escritor e guionista Alexandre Borges escreve assim no Observador:
"Tendo em conta que todos já assistimos a, pelo menos, 17 concertos dos Xutos, todos somos testemunhas da vitalidade que o notável lote de canções de Circo de Feras mantém. 30 anos depois, ombreia sem pudores, com a passagem do tempo, os telemóveis, os convidados internacionais dos rock in rios, o processo-de-cinismização-em-curso dos adultos e o pêlo na vento dos putos. É vê-los a todos, do estivador à doutorada em bioquímica, esganiçando-se por alcançar o tom do Tim (é, de facto, um tim; uma espécie de tom, mas mais alto). O passado que foi lá atrás, a vida que vai torta, o sol que brilhará quando as trevas se abrirem, esta cidade cheia de filhos da puta sem razão e sem sentido, tudo isso, perdoem o Francês dos rapazes, é património imaterial deste recanto da humanidade.
Artigo completo em https://observador.pt/2017/02/02/de-modo-que-as-feras-fizeram-30-anos/
































Dois singles foram retirados deste álbum: Sai Prá Rua / Pensão e Contentores / Vida Malvada. Foi, aliás, com o tema Sai Prá Rua que os Xutos fizeram o seu primeiro videoclip. realizado por José João Águeda e filmado no Barreiro, onde os Xutos, heróis em ação, libertam do sequestro um grupo de crianças. E não, não é a Catarina Furtado no colo do Kalu. Ela só aparece durante dois segundos no início.



























Para o single Contentores foram captadas imagens num concerto no pavilhão d'Os Belenenses, com a atriz Ana Padrão, então com 17 anos, no papel de destaque.
O álbum Circo de Feras foi o primeiro Disco de Prata da banda e atingiu o Ouro no final desse ano. A tour levou os Xutos também a Espanha e ao Brasil.






























Em 2007 o Circo de Feras foi celebrado no Campo Pequeno, num concerto especial que incluiu artistas de circo e vários músicos convidados. O concerto ficou registado em DVD.

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